domingo, 29 de maio de 2016

O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos

Simone de Beauvoir


Disponível em: http://www.revistabula.com/5493-sartre-o-messias-da-filosofia/

Os últimos acontecimentos no cenário político brasileiro jogaram ao amadorismo muitas das tramas de poder já pensadas ou vividas pela humanidade. Todo um projeto arquitetado para depor uma presidente democraticamente eleita veio à tona de forma impactante: gravado, não foi descrito ou narrado por outro se não pelos próprios atores envolvidos.

O contato com os áudios “vazados” e publicados em primeira veiculação pela Folha de São Paulo torna claro alguns pontos sobre o processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff:

1. Militares e representantes do STF participaram da manobra para tirar a presidente eleita do poder.

2. Representantes do STF agem de maneira parcial, barrando processos ou condenando de acordo com o recebimento de privilégios, tais como aumento de salário ou benefício.

3. A mídia foi partidária e sem compromisso com os fatos, o que, segundo trecho em que cita um Marinho, se deu por um “efeito manada” contra o governo.

4. Os corruptos, investigados pela Lava Jato ou outros processos, precisavam que a presidente saísse para parar ou manobrar as investigações.

5. Os votos pela saída da presidente foram combinados muito antes do processo, o que atesta que os motivos alegados eram irrelevantes, a presidente foi condenada antes do julgamento – todo o rito para afastamento foi mera encenação.

6. Houve partidos políticos que financiaram os movimentos pró-impeachment, provocando assim o “efeito manada” explorado pela Rede Globo e grandes mídias.

7. Inabilidade administrativa ou crise econômica não foram os motivos que moveram o afastamento da presidente.

Até aqui nenhuma novidade, principalmente para os que acompanham a política nacional, alguns mais atentos ao contexto supunham tais situações antes mesmo dos vazamentos e foram, por conta disso, taxados como exagerados ou panfletários do governo Rousseff. Entretanto, o que espanta - e é a real motivação desse texto – é a inércia de grande parte da sociedade frente a essas revelações!

É inquietante que as pessoas não percebam ou não se importem, mas, dado aos fatos, nossa democracia está ruída, afinal, os pilares democráticos representados pelos três poderes (executivo, legislativo e judiciário) estão seriamente comprometidos, assim como a mídia – metáfora do quarto poder.

Feito um exemplo barato de antítese, a massa que recém saiu às ruas contra a corrupção tornou-se passiva quanto à nomeação de indiciados, corruptos e até homicidas para o Governo Interino. Como se não bastasse, parece aceitar a perda de direitos que esse governo propõe, o que torna a situação ainda mais atípica, já que nem cortes drásticos na Educação, Saúde e Direitos Trabalhistas serviram para alterar o quadro.

Se a arte imitou a vida quando das reflexões do cantor ecoou o protesto “...dormia, a nossa pátria mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações...”, agora o jeitinho brasileiro faz a vida imitar a arte, desenhando para si um quadro exato ao de Buarque.
   





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