TEMER TEMERÁRIO
Um Presidente Interino
(Foto Oficial)
Já no primeiro ato oficial de seu governo, o presidente interino Michel
Temer deixou claro o que se deve esperar de sua gestão. A Suspensão de
Ministérios, dentre eles o da Cultura e o da Mulher, dos Direitos Raciais e
Direitos Humanos, demonstra que pouco ou nenhum investimento cultural será
implantado durante seu mandato, assim como indica para a nulidade de ações que
promovam equidade, prejudicando ainda mais as minorias e o avanço nos direitos dos
LGBT. Além disso, a CGU (Controladoria Geral da União), um dos mais importantes órgãos de combate à corrupção,
que havia conquistado autonomia e atuava como mecanismo de transparência das
contas do setor público, perdeu sua independência e voltou a ser submetida a
interesses políticos.
Aliado ao que há de mais questionável no cenário político brasileiro,
Temer montou sua equipe de maneira duvidosa, nomeando diversos envolvidos em
escândalos de corrupção para comissão de frente do seu governo. Não menos
importante que isso, é sua aproximação em relação às pautas extremamente
conservadoras da bancada evangélica, a qual apresenta forte defesa dos valores
preconceituosos da sociedade brasileira. Vale colocar ainda, a importância da
falta de representatividade dos ministros, todos homens e brancos - para
representar uma sociedade majoritariamente formada por mulheres e não brancos.
Pontualmente, além de escândalos de corrupção, pairam posturas duvidosas sobre o presidente interino e os ministros que estão à frente de pastas importantes:
O PRESIDENTE – Michel Temer
Inelegível por ser ficha-suja, foi condenado
pelo TRE de São Paulo por fazer doações de campanha acima do limite permitido
por lei. Tem denúncias de lobby na BR Distribuidora. Na operação Lava Jato, há
lobistas envolvendo não só ele, mas Cunha e Renan como articuladores de propina
para o PMDB, é mencionado por um executivo da empreiteira da OAS, junto com
Cunha. Aparece em planilhas da Camargo Corrêa - mesmo assim, a
Procuradoria-Geral da República informa que não o investigará.
Recentemente, denúncias vazadas pelo Wikileaks apontam Temer como um informante dos EUA acerca dos assuntos internos do governo brasileiro.
JUSTIÇA (“E CIDADANIA”) – Alexandre de Moraes
Tem histórico notável de agravamento das
chacinas nas periferias e um aumento de 40% no volume de violência da PM paulista
durante seu comando. Moraes tem relação duvidosa com a organização criminosa PCC,
para a qual defendeu uma empresa de vans. Responsável pela PM arbitrária e
excessivamente violenta de São Paulo, o ministro já assumiu o cargo prometendo
forte repressão aos movimentos de resistência ao governo, para o que,
utiliza-se do reducionismo “movimentos de esquerda”, ignorando a pluralidade
dos que se levantam contra o governo de Temer.
AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - Blairo Maggi
Maggi está entre os maiores desmatadores da Amazônia, é conhecido como “rei
da soja”, latifundiário fortemente posicionado contra demarcação de terra para
indígenas ou reforma agrária. Autor da PEC 56/2012, que suspende as avaliações
técnicas previstas para licenciamento ambiental,
válidas desde a Constituição de 88.
Tramitavam contra ele no STF, denúncias de lavagem de dinheiro e
corrupção. Na semana da votação do impeachment, porém – quase que
por mágica – um ministro do STF arquivou o inquérito que o investigava a pedido
do procurador-geral da República.
CIDADES - Bruno Araújo
Deputado desde 2007, recebeu doações de empresas investigadas na Lava
Jato em 2014 (Odebrecht e Queiroz Galvão). Como primeira medida, permitiu que
empreiteiras tivessem maior participação em um dos maiores projetos de
engenharia civil do governo, o 'Minha Casa Minha Vida', ao que, as empreiteiras
agradecem.
CASA CIVIL - Eliseu
Padilha
Inúmeras denúncias, incluindo desvio de merenda escolar. Foi uma
liderança no caso da máfia dos precatórios do DNER. Em 2015, livrou-se de um inquérito por peculato (desvio de
recurso por funcionário público) a que respondia no STF. Era investigado pela
contratação de uma funcionária fantasma, processo também arquivado pelo Supremo
em 2014.
MINAS E ENERGIA - Fernando Bezerra Coelho Filho
Investigado na operação Lava Jato. O STF autorizou em março de 2015 a
abertura de inquérito para apurar suspeitas por envolvimento no esquema de
corrupção na Petrobras. O pai também é político e, ironicamente, também
investigado pela Lava Jato.
SECRETARIA DE GOVERNO - Geddel Vieira Lima
Citado na Operação Lava Jato, suspeito de ter usado sua influência para
atender a interesses da construtora OAS na Caixa Econômica Federal.
Na década de 90, foi citado no escândalo dos
Anões do Orçamento - em que parlamentares foram acusados de manipular emendas para
desvio de verbas.
GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL - Sérgio
Etchegoyen
Das Forças Armadas há 45 anos – grande parte deles na Ditadura. Após a
divulgação do relatório da Comissão Nacional da Verdade, foi o primeiro oficial
de alta patente a se manifestar sobre a questão, por ter o nome do pai (Leo
Guedes Etchegoyen, morto em 2003) incluído numa lista entre os 377 agentes do
Estado culpados por crimes contra a Humanidade.
CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÕES E COMUNICAÇÕES -
Gilberto Kassab
Temer descartou a primeira opção de um ministro criacionista, mas
colocou na pasta um investigado do STF. Condenado pela 7ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo (capital) por improbidade administrativa,
pelo não pagamento de precatórios, e réu também por outra ação de improbidade
administrativa movida pelo Ministério Público. Acusado ainda de manter um
esquema de propina para que comerciantes pudessem vender na Feira da Madrugada,
Pari, em São Paulo.
INTEGRAÇÃO NACIONAL - Hélder Barbalho
Em 2008 foi incluído em uma lista da Associação dos Magistrados
Brasileiros como “ficha-suja”, por uma ação penal de improbidade
administrativa.
TURISMO - Henrique
Alves
Foi citado na delação do doleiro Alberto Yousseff e é investigado na
Operação Lava Jato. Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Refino e
Abastecimento da Petrobras, afirmou que Alves estava envolvido no esquema de
corrupção da estatal.
Novas investigações autorizadas pelo STF apuram
suposta propina envolvendo Eduardo Cunha, cujas mensagens de celular
apreendidas fazem referência a cobranças por propina da empreiteira OAS, como
repasses à campanha de Alves para governo do Rio Grande do Norte.
FAZENDA - Henrique Meirelles
Nos últimos anos, atuou como presidente do Conselho da J&F Investimentos, controladora da
marca Friboi – uma das empresas que lucrou bilhões no ano passado apostando na
alta do dólar em contratos ofertados justamente pelo Banco Central - dirigido
por Meirelles durante quase uma década.
RELAÇÕES EXTERIORES - José Serra
Há poucos dias, o STF recebeu da Justiça de SP pedidos de investigação
de três ex-prefeitos suspeitos de improbidade administrativa, dentre eles:
Serra e Gilberto Kassab. O STF também abriu duas
ações de reparação de danos por improbidade administrativa contra ex-ministros
de FHC – e entre eles, novamente, o ministro Serra. Coleciona denúncias: Sanguessugas
(máfia das ambulâncias), Operação vampiro, Caso do falso dossiê, etc.
Coincidentemente frente à pasta de Relações Exteriores, José Serra também teve informações vazadas via Wikileaks, as quais demonstram uma negociata para entregar as reservas de petróleo brasileiras (pré-sal) para exploração da petroleira americana Chevron.
DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO - Marcos
Pereira
Bispo da Igreja Universal à frente do desenvolvimento industrial do país,
o religioso já foi vice-diretor da TV Record e compõe a representação da
bancada evangélica no governo.
TRANSPORTES, PORTOS E AVIAÇÃO - Maurício
Quintella
Foi condenado pela Justiça Federal, ao lado de outras nove pessoas, a
ressarcir R$ 133,6 milhões à União pela participação em esquema de desvio de
recursos da merenda escolar em Alagoas entre 2003 e 2005. Investigado na Operação
Gabiru, da Polícia Federal, pelos atos cometidos quando era secretário de
estado da Educação, em Alagoas, durante o governo
Ronaldo Lessa. Em 2010, a Justiça de Alagoas determinou o bloqueio de bens do
deputado, era réu em um processo que analisou um desvio de R$ 52 milhões de
recursos repassados pelo governo federal para a área de educação.
O novo ministro, que é encarregado da aviação, participou
da chamada “farra aérea” - parlamentares do Congresso Nacional usaram suas
cotas de passagens para familiares e amigos, Quintella fez uso de pelo menos 9
passagens ilegais.
EDUCAÇÃO (E CULTURA) - Mendonça Filho
Responsável pela pasta da educação e pela, agora, subpasta da cultura, é
o autor da emenda da reeleição em 1998, que o próprio FHC admitiu ter sido
comprada (embora diga que não tenha nenhuma responsabilidade sobre isso).
Documentos da Operação Castelo de Areia, ligados
à construtora Camargo Corrêa, citam uma contribuição de R$ 100 mil a Mendonça
Filho durante campanha à prefeitura de Recife.
MINISTÉRIO”
DA PRIVATIZAÇÃO - Moreira Franco
Responsável pelo “programa de parceria para investimento” – privatista
do novo governo, tem como principal alvo a venda do pré-sal e da Petrobras. Na
primeira entrevista, deixou claro que é o mercado quem “definirá a margem de
retorno em concessões”
SAÚDE - Ricardo Barros
O ministro – mais um investigado – disse em sua primeira coletiva de imprensa que a “fé move montanhas”, ao se referir a uma medida polêmica. Não é um técnico da área, como há mais de uma década não se via na pasta, Barros é engenheiro civil e não médico. Histórico defensor de cortes no Bolsa Família.
Um inquérito no STF investiga a suposta orientação dada por Barros para direcionar uma licitação de publicidade da prefeitura de Maringá. De acordo com gravações telefônicas feitas em 2011 pelo MPE, Barros teria orientado um secretário da prefeitura de Maringá a fazer um “acordo” entre duas agências de comunicação que disputavam licitação de publicidade da administração municipal, no valor de R$ 7,5 milhões.
O suplente desse ministro é Osmar Bertoldi – do DEM e da coligação que elegeu o Beto Richa (PSDB) no Paraná. Ele não poderá assumir, caso necessário, porque: está preso desde fevereiro, depois de ser reconhecido e denunciado à PM por cinco crimes, como estupro, agressão e cárcere privado da ex-noiva.
DESENVOLVIMENTO SOCIAL E AGRÁRIO - Osmar
Terra
Cuidará do que é “social” aconselhado por Jorge Gerdau, defensor
fervoroso de uma política rígida de repressão contra drogas e tráfico
–radicalmente contra a proposta de descriminalização da maconha, é a favor da
internação compulsória de dependentes químicos.
DEFESA -
Raul Jungmann
Investigado por fraude em licitação, peculato e corrupção em contratos
de publicidade entre 1998 e 2001, período em que era ministro do
Desenvolvimento Agrário de FHC – todos os contratos somavam R$ 33 milhões, mas
tudo foi arquivado - em 2011, a Justiça Federal arquivou o inquérito contra ele
porque não teria mais como aplicar a pena se o caso fosse a
julgamento.
É um dos maiores detratores dos trabalhadores
sem-terra, e liderou a estagnação da política agrária durante quase todo o
mandato de FHC.
PLANEJAMENTO - Romero Jucá
Nomeado ministro da Previdência Social do governo Lula em 2005, deixou o
cargo depois de quatro meses, após diversas denúncias de corrupção. Isso não
parece ser um problema para Temer, pois Jucá é citado na Operação Lava Jato e, junto
com Renan Calheiros, na Operação Zelotes, que investiga um esquema de medidas
provisórias.
Foi o relator, no Senado da proposta de emenda
à Constituição (PEC) nº 134 de 2015, que pode tirar R$ 35 bilhões da saúde
pública em 2017.
MEIO AMBIENTE – Sarney Filho
Um dos investigados pelo Ministério Público por usar sua cota de passagens áreas para voar ao exterior com a mulher e o filho. Tudo pela família nobre de sobrenome Sarney.
TRABALHO - Ronaldo Nogueira de Oliveira
Pastor da Assembleia de Deus que também integra a bancada evangélica em
Brasília, já chama a flexibilização das leis trabalhistas de “livre
negociação”.
RELAÇÕES DUVIDOSAS COM O CONGRESSO E O STF
A suspensão do Deputado responsável pelo processo de afastamento de Dilma Rousseff na Câmara, Eduardo Cunha (corrupto notório, alvo de diversas investigações e denunciado até por autoridades suíças), demorou quase seis meses para ser decidida pelo STF. O veredito saiu somente após a votação para afastamento da presidente, e mesmo assim, não retirou de Eduardo Cunha seus privilégios, Cunha continua recebendo dinheiro público e mantendo as mordomias do cargo.
Já no Senado, o presidente Renan Calheiros (investigado por lavagem de
dinheiro, peculato, esquemas de corrupção relacionados à Petrobras), antes
mesmo de acabar o processo de “impeachment” contra Dilma Rousseff, afirmou que
irá revisar a legislação para o impeachment, segundo ele, para evitar o fator que "pré-julga, porque você afasta uma presidente da
República sem que ainda tivesse caracterizado o crime de responsabilidade”. Ressalva:
o próprio Renan atesta a ilegalidade do processo de afastamento de Rousseff.
Não alheio às incertezas geradas pelos procedimentos da justiça brasileira, no primeiro dia do governo interino, o representante
do PSDB no STF, Gilmar Mendes, arquivou as denúncias
contra Aécio Neves (candidato derrotado do PSDB, nas últimas eleições). Infelizmente, outros movimentos do STF
apontam para mais arquivamentos.
Durante os últimos dias, o mesmo STF que impediu a presidente Dilma de empossar o ex-presidente Lula como ministro (sob alegação de que o ex-presidente seria alvo de investigações e não poderia ter foro privilegiado),
agora permanece omisso frente a solicitações para impedimento na nomeação dos vários indiciados do Ministério de
Temer.
Outro fato inquietante, é que apesar de não haver Crime de Responsabilidade - e o processo
de afastamento da presidente estar, portanto, em desacordo com a legislação vigente - o STF
avalizou o procedimento.
Parafraseando Eduardo Cunha, sem a menor contenção de ironia: "Deus tenha Misericórdia dessa Nação"!