DEUS É BRASILEIRO E A EXTREMA DIREITA TAMBÉM
“Não
podem se desfazer de mim, eu faço parte de todos vocês!”
Personagem de Hitler no longa adaptado do livro de Vermes
O plebiscito que
surpreendeu o mundo na semana passada separou o Reino Unido da União Europeia,
numa vitória apertada em que a extrema direita, em nome da xenofobia, venceu a
resistência progressista e decidiu os próximos passos do país. Na sequência,
entraram com solicitação para separar-se, Portugal da UE e, paradoxalmente, a Escócia em relação ao próprio Reino Unido.
Do lado de cá do oceano,
não muito distante dali, Trump avança às finais das eleições Americanas, adepto
dos mesmos ideais extremistas, defende o fechamento do território americanos
aos latinos. Mas o que esses avanços conservadores têm a dizer sobre contexto
atual do Brasil? Muito, não só pela parte que no Globo nos cabe, como pelas
tendências extremistas que aqui se manifestam - seja na figura do Dep. Jair
Bolsonaro e seus seguidores, seja no fundamentalismo religioso difundido pela
Bancada Evangélica.
Quando pensamos
historicamente em extrema direita, desenha-se um quadro exageradamente conservador,
patriota e preconceituoso em relação a indivíduos e culturas diferentes, ou
seja, a pauta dos políticos aliados a Bolsonaro, Feliciano, Malafaia e grande
parte da Bancada Evangélica representa em seu ultraconservadorismo o avanço
da extrema direita brasileira. No entanto, pensar a projeção dessas figuras isoladamente
é um tremendo equívoco, assim como aquele no qual, segundo pesquisas recentes, a maioria dos alemães acredita que suas famílias não foram apoiadoras de Hitler. Voltando ao contexto brasileiro, fica fácil constatar a amplitude do
avanço conservador na sociedade - nos cartazes pró ditadura das
manifestações do impeachment, ou no respaldo obtido pelo governo interino
ao fechar a fronteira brasileira aos refugiados sírios (mesmo após a emblemática foto da criança síria morta na praia ter viralizado nas redes sociais dos brasileiros) – tornando os políticos de extrema direita um mero
reflexo de uma fatia social até então legada ao anonimato.
No longa alemão Ele está
de Volta, 2015, Hitler acorda no século XXI e percorre o país divulgando
suas ideias. A grande surpresa do filme, no entanto, dá-se pelos takes
experimentais que incluíram pessoas comuns pelas ruas da Alemanha, as quais foram
receptivas à figura do ditador e concordaram em muitos aspectos com o discurso
nacionalista e protetor que acabou legitimando o “ultrapassado” III Reich. Ao
final da película, existem dois momentos que desconstroem a figura do líder de
extrema direita sanguinário e isolado de seu contexto, num deles Hitler
lembra que fora eleito e conseguiu governar em meio ao amplo apoio dos cidadãos
alemães, no outro o personagem recomeça a ganhar espaço no séc. XXI por
meio do mesmo discurso nacionalista, mostrando que vários movimentos
conservadores que brotam do atual contexto dariam apoio a uma evolução do IV
Reich, e isso se estende ao Brasil.
A questão do avanço
conservador, portanto, deve ser analisada como fenômeno amplo e irrestrito,
pensar o Brasil como o país da eterna cordialidade, onde os líderes
conservadores surgiriam de maneira isolada ou caricata é um grande equívoco, já
que, respeitadas as peculiaridades, o que nos une a essas políticas excludentes
é muito mais forte - vide o projeto de lei (PL 5358/2016) que pretende a criminalização do Comunismo por ser visão
antagônica ao que a direita, tradicionalmente, representa no país, ou os movimentos separatistas
que despontam, ora propondo a saída do Brasil do Mercosul, ora propondo a
separação de um ou outro Estado no qual o sentimento de superioridade, semente do fascismo, ganha força.
Assim como no Mundo, resta
ao Brasil encontrar uma perspectiva menos excludente do que o doloroso caminho proposto
pelas políticas de extrema direita. A questão é: como encontrar essa
perspectiva se ignorada a complexidade do momento e seus fantasmas insurgentes?! Nesse sentido, a esquerda brasileira tem deixado de ser combativa por ignorar ou demorar a reconhecer as lacunas mantidas por um governo que não promoveu reforma política, privilegiando a mesma casta outrora favorecida pelo direitismo dos Militares, e que, não menos importante, não garantiu a democratização dos meios de comunicação, panfletários da ideologia de direita.