sábado, 30 de abril de 2016

SOS BRASIL

Além da maioria na bancada para a comissão do processo de impeachment no Senado Brasileiro já ter se posicionado, em algum momento, à favor do impedimento de Dilma Rousseff, e como se não bastasse a fragilidade do argumento jurídico que embasa a petição dando margem à caracterização de um golpe parlamentar, o processo se aproxima do término carregado de fatos que o colocam em descrédito. 

Ironicamente, segundo a jurisprudência da Corte Interamericana (reconhecida pelo governo brasileiro), os parlamentares responsáveis por um processo são investidos da condição de juízes, portanto não poderiam declarar seus votos previamente ou caracterizar qualquer conflito de interesses. Entretanto, o autor da denúncia que levou à abertura do processo, Miguel Reale Júnior, é filiado ao partido derrotado nas últimas eleições (PSDB) e, assim, partilha abertamente dos interesses da oposição em derrubar o governo. Fora isso, a coautora da denúncia, Janaína Paschoal, além de um longo histórico de trabalhos ligados ao partido de oposição, assumiu ter recebido significativa quantia em dinheiro do PSDB (partido que vem sendo derrotado pelo PT desde de 2002) para elaborar a peça de acusação contra Rousseff

A própria abertura do processo de impeachment por Eduardo Cunha (que antes havia recusado diversos pedidos similares por entender que não havia base legal para o impedimento) foi feita após declaração do partido da presidente em favor de que fosse aberto o processo que contra Cunha tramita, a passos lentos, no Conselho de Ética – Cunha é réu, tem contas em paraísos fiscais, e está amplamente envolvido em diversos escândalos de corrupção. Alguns dos processos que o envolvem permanecem nas mãos do Supremo Tribunal Federal há mais ou menos seis meses, quase que inexplicavelmente sem qualquer evolução – essa semana, a Câmara dos Deputados, liderada por Eduardo Cunha, deu sequência em caráter de urgência a um aumento de até 78% para o judiciário, o mesmo aumento que fora, anteriormente, vetado por Dilma Rousseff.

Após articulações públicas entre Michel Temer (PMDB), vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff que no início do processo de impeachment abandonou o governo, Eduardo Cunha (PMDB) e importantes dirigentes da oposição no PSDB, as indicações de plenário para condenação da presidente, seja na Câmara ou no Senado, contam com ampla maioria. O próprio relator do processo no Senado, Antonio Anastasia (PSDB-MG), tem sido desde de início um dos apoiadores do pedido de impeachment, outrossim, quando governador de MG, Anastasia praticou por mais de 900 vezes as tais “pedaladas fiscais” e assinou “créditos suplementares” nos quatro anos de mandato - vale lembrar que pedaladas fiscais e créditos suplementares embasam o pedido de impeachment da presidente. 

Outro ponto polêmico é que as contas do governo questionadas no processo não foram sequer recusadas pelo Tribunal de Contas da União, fecharam num contexto em que decretos para suplementação orçamentária estavam de acordo com a legislação vigente e eram amplamente utilizados em todos os âmbitos do poder público brasileiro. Se a lei não é retroativa, não há como culpar o governo, porque no momento em que o TCU mudou o entendimento acerca desse procedimento, o governo não transgrediu a regra, não há um só decreto suplementar emitido pelo governo pós-proibição. Num regime Presidencialista (como no Brasil), só um atentado à Constituição praticado por um presidente pode levar a um impeachment e, a própria Constituição determina que as contas do governo federal passem pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para depois serem submetidas à Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional - não houve deliberação do TCU para as contas que estão sendo julgadas.

Como transgressão pouca é bobagem, já no relatório de acusação da Câmara foram incluídos itens que não constavam na abertura do processo, após a defesa da presidente, privando-a do direito à defesa em relação a esses. Tal postura, continua a pautar a acusação no Senado - por Janaína Paschoal e Miguel Reale - mesmo após proibição do Supremo Tribunal Federal. Durante a acusação no Senado, a jurista Janaína Paschoal, além de extrapolar os motivos previstos para abertura do processo, não respondeu de maneira precisa quando questionada sobre a legitimidade constitucional das acusações, esbanjando apelos emocionais (como quando, errônea e irrelevantemente,  afirmou que o PT não assinara a Constituição de 1988)*, chorou com a Constituição Brasileira nas mãos, e no ponto alto da noite, chegou a se contradizer ao afirmar que os atos assinados por Michel Temer, apesar de similares aos pelos quais acusa Dilma Rousseff, seriam ilegais somente para a presidente.

Afinal, o que leva um processo inconsistente e cheio de vícios como esse à possibilidade de derrubar uma presidente “recém” eleita com 54 milhões de votos? É fato que, inabilidades políticas e o pior reflexo dos efeitos da crise econômica mundial na economia brasileira, já nos primeiros meses do novo mandato, contam muito para a impopularidade de Dilma Rousseff. Porém, a atuação da grande mídia tem sido, como historicamente o é no Brasil, partidária dos interesses que passam alheios aos avanços sociais conquistados nas últimas gestões, pois atende aos interesses do capital financeiro – amplas privatizações, retirada de direitos trabalhistas, diminuição no investimento para saúde e educação, etc. -  coincidentemente, essas medidas são defendidas pelo sucessor Michel Temer em seu programa "Ponte para o Futuro". Grande parte da população, portanto, alheia aos fatos ou exposta a esses em uma linguagem inacessível, é bombardeada há meses por propagandas anti-governo PT, paradoxalmente, o mesmo governo que lhe garantiu melhorias sociais significativas na última década.



* Assinaram pelo PT na promulgação da Constituição de 1988: Benedita da Silva RJ), Eduardo Jorge (SP), Florestan Fernandes (SP), Gumercindo Milhomem (SP), Irma Passoni (SP), João Paulo Pires Vasconcelos (MG), José Genoino (SP), Luiz Gushikem (SP), Luiz Inácio Lula da Silva, Olívio Dutra (RS), Paulo Delgado (MG), Paulo Paim (RS), Plínio Arruda Sampaio (SP), Virgílio Guimarães (MG), Vitor Buaiz (ES) e Vladimir Palmeira (RJ).


quarta-feira, 27 de abril de 2016

PRECISA-SE DE MOINHOS DE VENTO NO PAÍS DO CONTRASSENSO
(Foto de Jornalistas Livres)

Era uma vez, o País do Contrassenso, onde queria-se acabar com a corrupção dando poder aos indivíduos mais corruptos que lá existiam. Nesse país, pregava-se o uso constitucional do impeachment, mas sem nenhum motivo constitucional. Era um lugar prosaico, em que o tribunal mais importante preferiu não interferir na ordem dos fatos, porque estava ocupado julgando se as pessoas poderiam entrar nos cinemas com pipocas. Não suficiente, nesse mesmo lugar, abusavam de frases carregadas de preconceito, mas negavam-se fascistas, imprimiam ideias absurdas via mídia, mas diziam-se imparciais. Pregava-se até, que a corrupção fora inventada por um único partido político, e que por ser desse partido exclusividade, bastaria tirá-lo do poder para que o Mundo nunca mais tivesse corrupção! Nesse lugar, os representantes justificavam seus atos pela família, afagando suas amantes por telefone, justificavam seus votos por Deus, virando as costas para a população pobre que ali vivia. 

Ainda nesse país, uma presidente que cometeu pedaladas fiscais poderá ser tirada do cargo, em um processo conduzido por outrem que também cometeu as tais pedaladas, para enfim, dar poder ao vice-presidente - que pedalou suas pedaladas também! Vejam só, a confusão, e não se dá pela retórica, senão pela própria narrativa dos fatos.

Era um país que se não existisse, precisaria ser inventado, afinal, como mensurar o absurdo na falta de um parâmetro tão exato!

Mas, como tudo que há nesse universo teima em ser temperado, existe ali um povo que vale a luta, porque resiste-se tenro em meio à brutalidade. Resiste-se digno na sua pobreza, e, até encontra um ou outro Quixote a se aventurar por ali, remando contra a maré à revelia de seu Sancho Pança.

Hoje, no País do Contrassenso, um imenso Dom Quixote estremeceu o Sancho Pança que em mim reside:

"A maioria dos progressos sociais consagrados como avanços da humanidade vieram da esquerda. Apesar de nunca termos triunfado completamente, os únicos derrotados são os que deixam de lutar. A derrota é sentir-se impotente."                                                                                 
Mujica
(https://www.facebook.com/jornalistaslivres/?fref=nf)

terça-feira, 26 de abril de 2016

A PÁTRIA QUE É DRUMMOND DEMAIS PARA BILAC

Desde ontem, data em que o Senado anunciou a comissão do Impeachment sem crime de responsabilidade, de Dilma Roussef, o desânimo tomou conta das minhas utopias. O golpe, meus caros, já foi dado, e somente algumas almas otimistas como a minha resistiam à ideia de que o país que na infância fora apresentado por Bilac - "Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste! Criança! não verás nenhum país como este!" -  a vida adulta pinte em Drummond.

Nesse breve intervalo que antecedeu minha epifania, vi com orgulho diversos movimentos sociais organizarem-se como há muito não faziam, vi intenso diálogo entre pessoas diferentes com pontos de vista em comum, vi insurgir - sem qualquer convocação formal - uma população que tomou a Paulista pela Democracia. No entanto, a realidade trazida por um Supremo Tribunal Federal que permanece inerte frente ao que lhe cabe, por um vice-presidente que atua abertamente como titular (inclusive informando cargos e projetos de governo), por uma mídia que ignora completamente a população e seus movimentos, por um Senado que não tem pudor para sequer maquiar imparcialidade frente a esse processo, foi esmagadora - ontem, não escrevi uma só palavra, olhava para o quadro que sepultará nossa Democracia, um quadro assim tão duro, sem carisma nem para olhares de relance:













Talvez, a minha geração e as que depois vieram tenham de aprender sobre uma luta mais incisiva do que a da busca do professor suíço - que se sente à margem da própria vida - pela descoberta dos que viveram a Revolução dos Cravos, em "Trem Noturno para Lisboa". Talvez tenhamos de viver a luta em si, como fizeram as gerações anteriores. Teremos coragem para isso? Seremos capazes de sair dos nossos sofás e ir além das telas virtuais que nos protegem do mundo? Não sei, mas ao mesmo tempo em que Drummond traz a realidade, acalenta em mim a certeza: de algum modo, resistiremos!

Mãos Dadas
Carlos Drummond de Andrade
  
Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas 
(...)






sábado, 23 de abril de 2016

 A GRANDE MÍDIA E A PERDA DO
 "PAÍS DAS MARAVILHAS"

http://cinema.uol.com.br/alice-no-pais-das-maravilhas/


Tradicionalmente, a grande mídia brasileira tem atuado no sentido de construir ou destruir ideologias, segundo seus próprios interesses. Não é difícil perceber a abordagem comum dada às pautas desses grandes grupos que monopolizam a informação no Brasil: ora atuam para instituir, ora para destituir poderes. Fato é que, algo anda "errado" com as Alices e seus coelhos no País das Maravilhas! 

Os acontecimentos relacionados ao impeachment da presidente do Brasil (pauta onipresente nesses veículos) saíram do controle e colocam em xeque a narrativa reproduzida pelos principais veículos de comunicação do país. Enquanto os veículos brasileiros esforçam-se para manter a legitimidade do processo que pretende tirar a presidente brasileira do poder, os mais importantes veículos de comunicação internacionais confrontam essa narrativa - antes de forma sutil, agora escancaradamente:

   história da crise política no Brasil, e a mudança rápida da perspectiva global em torno dela, começa pela sua mídia nacional. A imprensa e as emissoras de TV dominantes no país estão nas mãos de um pequeno grupo de famílias, entre as mais ricas do Brasil, e são claramente conservadoras. Por décadas, esses meios de comunicação têm sido usados em favor dos ricos brasileiros, assegurando que a grande desigualdade social (e a irregularidade política que a causa) permanecesse a mesma.
Aliás, a maioria dos grandes grupos de mídia atuais – que aparentam ser respeitáveis para quem é de fora – apoiaram o golpe militar de 1964 que trouxe duas décadas de uma ditadura de direita e enriqueceu ainda mais as oligarquias do país. Esse evento histórico chave ainda joga uma sombra sobre a identidade e política do país. Essas corporações – lideradas pelos múltiplos braços midiáticos das Organizações Globo – anunciaram o golpe como um ataque nobre à corrupção de um governo progressista democraticamente eleito. Soa familiar?
Por Davi Miranda - The Guardian - 22/04
http://www.theguardian.com/commentisfree/2016/apr/22/razao-real-que-os-inimigos-de-dilma-rousseff-querem-seu-impeachment

Mas, o que de fato mudou no cenário comunicativo e está alterando a hegemonia da narrativa midiática brasileira?! Sem dúvida, as mídias sociais atuam de maneira a tensionar e até reorganizar o discurso, porque - tendo alcance internacional (Twitter por exemplo) - despertam a atenção para os movimentos conflitantes internos do país, atraindo o foco para o contexto brasileiro, e junto com esse a abordagem investigativa que é própria da mídia internacional. Paradoxalmente, se antes a mídia local citava os grandes veículos (The New York Times, The Economist, Forbs... ) para consolidar suas posições, agora tenta negá-los, mais do que isso, torná-los meros marionetes manipuláveis pelo Partido dos Trabalhadores, ou até pela própria Dilma Rousseff.

Tal postura da grande mídia brasileira, além de insustentável a longo prazo, pode promover a sonhada democratização da mídia no país, uma vez que os danos à credibilidade dessa mídia tradicional podem ser irreversíveis. Aliás, segundo dados disponíveis na página do Ibope, a própria Rede Globo, apesar de estar à frente das concorrentes, demonstra grande oscilação em relação ao número de telespectadores, ao passo que as demais emissoras mantêm-se em equilíbrio:


Outro aspecto a ser observado na página do Ibope é a presença de estudos que apontam relação entre mídia social e audiência (https://www.kantaribopemedia.com/estudo-aponta-indicios-de-causalidade-entre-tv-e-twitter/), ou seja, é bastante significativo se observarmos que na véspera e no dia da coletiva internacional de Dilma Rousseff em Nova York, #StopCoupInBrazil  e 
#SOSCoupInBrazil alcançaram mais de 230 mil postagens. Além disso, a mídia independente cresce entre os internautas, possibilitando uma pluralidade de discurso que antes era impensável para o contexto brasileiro.

Jogando pimenta nesse pirão, arrisco escrever que não foi à toa que ecoaram, recentemente, discursos sobre a possibilidade de limitar ou encarecer o acesso à internet no Brasil. 





  



















sexta-feira, 22 de abril de 2016

VAMOS FALAR SOBRE COMBATE À CORRUPÇÃO?

O primeiro mito que precisamos derrubar (e o uso aqui de "precisamos" inclui, de fato, essa que vos escreve) é o de que seria possível acabar com a corrupção. A corrupção, etimologicamente Grega (co” - ao mesmo tempo  e “ruptus” - romper, quebrar) que é quebrar a conduta do que fora estabelecido para determinado âmbito social, parte do individual para o coletivo, então a aplicação desse termo também se dá às "pequenas" transgressões do dia a dia: como fraudar uma declaração de IRPF, por exemplo, ou estacionar em vaga destinada a idosos e deficientes. Obviamente que, quando ocorre dentro de esferas institucionais públicas, o alcance desse desvio é muito maior e precisa, sim, ser controlado. Porém, vamos pensar juntos, se a sociedade Grega antiga, cujo surgimento data de quase dois mil anos antes do nascimento de Cristo, já elaborara um termo para tal desvio de conduta, obviamente a corrupção acompanha toda a História da Civilização - pelo menos no que diz respeito à Ocidental. Ou seja, a prática da corrupção é da condição humana, não irá acabar, portanto seu combate é perene.

O segundo mito que, ao meu ver, precisa ser derrubado é o culto da corrupção isolada. Ou seja, é como se houvesse uma tentativa de negar que a corrupção - mesmo sendo própria à natureza humana - estivesse presente em toda e qualquer instituição. Ao mesmo tempo, descredibilizar uma instituição em detrimento de outra, como se fosse possível assim, expurgar do Mundo essa prática. Ora, se a corrupção é própria da natureza humana, do que são formadas as instituições que conhecemos (Igrejas, Escolas, Partidos Políticos, Sindicatos, etc.) senão de homens? Em toda instituição haverá corrupção, em maior ou menor escala, e em todas elas a corrupção precisa ser controlada, então, acreditar que irá acabar é, no mínimo, ingenuidade.

No Brasil, muito se tem dito sobre o combate à corrupção nos últimos tempos, mas o grave nisso é como se tem dito, utilizando-se de apelos emocionais, tem-se propagado a ideia de que a corrupção é exclusividade de um partido político (não por coincidência é o que ocupa o poder), tem-se dito que a corrupção acabará com a retirada desse partido do poder, tem-se quebrado o protocolo jurídico nas investigações dirigidas a esse partido. Porém, ironicamente, o  discurso de combate à corrupção foi apropriado e, diria até que, é estimulado por figuras políticas que estão indubitavelmente envolvidas em grandes esquemas de corrupção. Ou seja, é claro que essas figuras sabem que defendem uma farsa, como também é claro que existem interesses por trás disso, que não são os da população brasileira, são interesses próprios, pois se tomarem o poder, controlarão não só o discurso contra corrupção como também as investigações. 

O partido da atual gestão também tem problemas relacionados à prática de corrupção, mas sabemos que as investigações têm avançado, mesmo quando elas recaem sobre o Partido dos Trabalhadores. Além disso, contra a figura da presidente não há indícios de enriquecimento ilícito, ou o Impeachment não seria sobre pedaladas fiscais. Amplio um pouco mais, tenho simpatia pela ideologia de esquerda e não sou petista, mas lembro que as leis que possibilitaram o combate à corrupção foram promulgadas nas gestões do PT: 

2003 - Controladoria da União é elevada a Ministério
2004 - Cria-se o Portal da Transparência
2005 - Regulamenta-se o pregão eletrônico
2008 - Criação do cadastro de empresas idôneas e suspensas
2009 - Aprovação da lei de acesso à informação
2013 - Aprovação da lei Anticorrupção
2013 - Lei da Delação Premiada

Por fim, já que todos queremos que a corrupção seja controlada em nossa esfera pública, ressalto o trecho da entrevista feita pela agência Estadão (20/04/2016 - link abaixo) com Carlos Eduardo Sobral, atual presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, que deixa claro, já de início, o fato de que não está havendo interferência de Dilma Rousseff no andamento das investigações sobre corrupção no Brasil:

O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Carlos Eduardo Sobral, afirma que a categoria não vai aceitar interferência nos seus trabalhos se houver mudança de governo caso o Senado ratifique o impeachment da presidente Dilma Rousseff."

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2016/04/20/se-houver-tentativa-de-interferencia-vamos-resistir-diz-delegado-da-pf.htm




quinta-feira, 21 de abril de 2016

quarta-feira, 20 de abril de 2016

EM MEMÓRIA DELAS E EM DEFESA DELA


Sentei-me em frente ao computador para escrever esse texto, as palavras não saíam, um nó na garganta e uma sensação de que, por mais que tentasse, não conseguiria traduzir o assunto melhor, mais preciso, diferente de todas as palavras já ditas e não suficientes para fazê-lo.

Levanto-me, ando pelo quintal, tomo uma água e retorno, percebo-me pequena, insignificante, alguém que pouco ainda sabe sobre a luta por uma sociedade mais justa - senão pelo viés virtual e por meia dúzia de manifestações dadas em plena luz do dia.

Voltei às fontes, lágrimas rolaram, não poderei construir esse texto de modo mais contundente que a própria narrativa dos dados, àquela que me antecedera...

Mas há, ainda há, algo sobre o que posso ousar escrever nessa tarde, ironicamente, ensolarada de Abril: há e resistirá a constatação de que não existe ideologia ou pensamento que se tenha sobre a gestão Dilma Rousseff que justifique a banalização da tortura sofrida por ela durante a Ditadura Militar. Não há nada que justifique a tentativa de anulação dela como um ser humano, como uma mulher lutadora e, ainda que eu tente entender a maldade humana, não há nada que me faça aceitar ou esquecer as vozes que ecoaram pelas ruas ovacionando sua tortura.

Seguem algumas histórias reproduzidas e adaptadas dos sites, porque - como já "disse" - minha escrita não conseguiria abarcá-las. Recomendo a leitura, em doses homeopáticas, para catarse e epifania, com um café quente para acompanhar ou um rum para ajudar a digerir.

Fontes:
#em memória delas – por “As mina na História” Facebook 




Dilma Vana Rousseff foi torturada nos porões da ditadura em Juiz de Fora e não apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro, como se pensava até agora. Foi colocada no pau de arara, apanhou de palmatória, levou choques e socos que causaram problemas graves na sua arcada dentária. Ela contava então com 22 anos e militava no setor estudantil. As terríveis sessões de tortura enfrentadas pela então jovem estudante segundo ela:

No início, não tinha rotina. Não se distinguia se era dia ou noite. Geralmente, o básico era o choque... se o interrogatório é de longa duração, com interrogador experiente, ele te bota no pau de arara alguns momentos e depois leva para o choque, uma dor que não deixa rastro, só te mina. Muitas vezes usava palmatória; usaram em mim muita palmatória...
O estresse é feroz, inimaginável. Descobri, pela primeira vez, que estava sozinha. Encarei a morte e a solidão. Lembro-me do medo quando minha pele tremeu. Tem um lado que marca a gente pelo resto da vida... me deram um soco e o dente se deslocou e apodreceu... Minha arcada girou para o lado, me causando problemas até hoje, problemas no osso do suporte do dente. Só mais tarde, quando voltei para São Paulo, o Albernaz (capitão Alberto Albernaz, do DOI-Codi de São Paulo) completou o serviço com um soco, arrancando o dente...
As marcas da tortura sou eu. Fazem parte de mim




Inês Etienne Romeu, Pouso Alegre, Minas Gerais, em 1942. Espancada e pendurada no pau-de-arara, para escapar das torturas inventou a seus captores que tinha um encontro com um guerriheiro, ao chegar ao local tentou suicidar-se jogando-se na frente de um ônibus, mas não morreu. Ferida, dali foi levada e permaneceu sob tortura, espancamento, choques elétricos e estupros. No inverno de menos de 10ºC, era obrigada pelos carcereiros a deitar nua no cimento molhado e levou tantas bofetadas que seu rosto se tornou irreconhecível. Tentou por quatro vezes o suicídio, sendo mantida viva por médicos contratados pelos militares. A partir de certo momento, ela foi informada de que sua tortura não era mais para conseguir informação, mas era apenas por sadismo.

Sabendo-se condenada à morte pelos torturadores, aceitou a saída proposta por um deles,  a de um honroso suicídio. Inês aceitou e pediu um revólver, mas seus captores preferiam que sua morte se desse em público, com ela se jogando na frente de um ônibus em alguma rua, como tinha feito quando foi capturada, levada a uma avenida, ao invés de se atirar na frente de algum veículo ela se agachou e começou a gritar e chorar agarrada às pernas de um de seus captores, chamando a atenção dos passantes. Foi então conduzida de volta à casa e voltou a ser torturada por duas semanas com choques elétricos, palmatórias. Neste período foi obrigada a cozinhar nua sendo humilhada por seus carcereiros, e foi estuprada duas vezes por um deles. Foi jogada na casa de uma irmã, em Belo Horizonte, pesando apenas 32 quilos. Mas foi Inês quem, afinal, em 1979, denunciou a existência da Casa da Morte. Última presa política a ser libertada no Brasil, Inês morreu dormindo em sua casa em Niterói, aos 72 anos, onde morava, em 27 de abril de 2015.





Criméia Alice Schmidt de Almeida militante e ex-guerrilheira no Araguaia, iniciou sua militância política na escola secundária. Grávida, Criméia ficou responsável pela comunicação entre os guerrilheiros e o partido, por meio de viagens periódicas. Em uma delas, foi presa em São Paulo pela Operação Bandeirante (Oban) e levada ao DOI-Codi, junto com sua irmã, Amélia Teles, seu cunhado e seus dois sobrinhos. Foi torturada mesmo estando grávida de sete meses. Depois, foi levada a Brasília, onde continuou sendo torturada até dar à luz a seu filho, ainda que sob constantes ameaças dos militares de que ele não sobreviveria. Após o parto, Criméia foi impedida de vê-lo e só pôde recuperá-lo 53 dias depois de seu nascimento, desnutrido e dopado.

 

 Ana Rosa Kucinski Silva nasceu em São Paulo, no dia 12 de janeiro de 1942.
Integrante da ALN na clandestinidade, Ana era graduada em química e doutora em filosofia, era uma das mais jovens professoras do Instituto de Química da Universidade de São Paulo – USP. Ana e seu marido foram presos pela equipe de um dos mais famosos agentes da repressão da época, o delegado paulista Sérgio Paranhos Fleury, e entregues aos militares, que os levaram para a Casa da Morte, um centro clandestino de torturas e assassinatos dos exército na cidade de Petrópolis, onde foram interrogados, torturados e executados. O ex-delegado e torturador confesso Cláudio Guerra, em depoimento aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros para o livro Memórias de uma Guerra Suja, afirmou que os corpos de Ana Kucinski e seu marido foram incinerados no forno da Usina Cambahyba, no Rio de Janeiro, junto com o de outros presos políticos assassinados. O corpo de Ana tinha "marcas de mordidas, talvez por ter sido abusada sexualmente" e o de Wilson "não tinha unhas na mão direita".



Nascida em São Paulo, Iara Iavelberg foi psicóloga, docente e militante.
Na versão do regime militar, Iara deu um tiro contra o próprio peito quando se viu diante da impossibilidade de fugir. O laudo – que posteriormente desapareceu – foi assinado pelo legista Charles Pittex e o corpo foi entregue à família apenas um mês após sua morte. Seguindo as tradições judaicas, Iara foi enterrada em uma área específica do cemitério destinada a suicidas, com os pés voltados para a lápide, tradição entendida como uma desonra. A teoria de suicídio, entretanto, nunca convenceu a família, incluindo seus dois irmãos, Samuel e Raul, também militantes. Após uma longa batalha a família pôde, em 2003, reiniciar um processo de investigação e realizar uma exumação do corpo de Iara. O legista Daniel Muñoz concluiu que a morte de Iara por suicídio era improvável e seu corpo foi finalmente retirado da ala de suicidas do cemitério israelita.



Maria Auxiliadora Lara Barcelos estudava em Belo Horizonte, e dava aulas com sua irmã numa escola dirigida por sua avó, para crianças pobres em favelas da cidade, aos 14 anos. Foi presa no dia 21 de novembro de 1969, com Antônio Roberto Espinoza e Chael Charles Schreier. Dora, ou Dodora, como era chamada, e foi vítima de torturas severas. Ela passou por choques elétricos e palmatórias nos seios. Dora entrou na lista dos 70 presos políticos banidos para o Chile. Lá, ela deu suas declarações sobre as torturas sofridas no Deops a um documentário intitulado "Brazil: A Report on Torture" (1971). Após o governo do ditador Augusto Pinochet ter impedido que ela continuasse seus estudos no Chile, Dora migrou para a Bélgica e conseguiu asilo político na Alemanha Oriental, em 1974. Em 1976, foi internada numa clínica psiquiátrica em Spandau devido a problemas de amnésia. Embora tenha recebido alta, atirou-se nos trilhos de um trem na estação de metrô Charlottenburg, em Berlim Ocidental, em 1º de junho de 1976, morrendo instantaneamente.



  
Nilda Carvalho Cunha os 17 anos, fazia o curso secundário e trabalhava como bancária quando passou a militar no MR-8. Presa em agosto de 1971, em Salvador (BA), junto com Jaileno Sampaio, também militante, foi levada para o Quartel do Barbalho e, depois, para a Base Aérea de Salvador, onde foi torturada. Liberada no início de novembro, profundamente debilitada em consequência das torturas sofridas, morreu no mesmo mês, com sintomas de cegueira e asfixia. No seu prontuário constava que não comia, via pessoas dentro do quarto, sempre homens, soldados, e repetia incessantemente que ia morrer, que estava ficando roxa. A causa da morte nunca foi conhecida. O atestado de óbito diz: edema cerebral a esclarecer. Sua mãe, Esmeraldina Carvalho Cunha, que denunciou incessantemente a morte da filha como consequência das torturas, foi encontrada morta em sua casa, enforcada por um fio de telefone.


 
Aurora Maria Nascimento Furtado era ativa militante do movimento estudantil nos anos 1967–68, estudava psicologia na Universidade de São Paulo e colaborava na imprensa da União Nacional dos Estudantes (UNE), de São Paulo. Trabalhou como bancária na agência do Banco do Brasil, no bairro do Brás. Após a implantação do AI-5, passou a atuar politicamente na clandestinidade. Durante uma batida policial realizada por uma patrulha do 2º Setor de Vigilância Norte, em 9 de novembro de 1972, acabou sendo presa, ferida por um tiro que lhe destroçou o joelho. Foi encaminhada à "Invernada de Olaria" – grande delegacia da polícia civil no subúrbio carioca ligada ao Esquadrão da Morte e hoje sede de um batalhão da PM – onde sofreu torturas no pau-de-arara, sessão de choques elétricos, somados a espancamentos, afogamentos e queimaduras. Aurora foi submetida ao suplício da "Coroa-de-cristo", uma tira de aço com parafusos colocada em volta da cabeça que gradativamente apertada leva ao esmagamento do crânio fazendo os olhos saltarem para fora das órbitas. No dia seguinte, o seu corpo foi encontrado crivado de balas na esquina das ruas Adriano com Magalhães Couto, no bairro do Méier (RJ), junto a um veículo VW, placa DH-4734, marcado de tiros.



Dinalva Oliveira Teixeira nasceu no sertão baiano, município de Castão Alves, em 16 de maio de 1945, filha de Viriato Augusto de Oliveira e Elza Conceição Bastos. Formou-se em Geologia na Universidade Federal da Bahia, no ano de 1968. Participava do ativamente do movimento estudantil, quando foi presa pela primeira vez.
Levada à base em Xambioá, permaneceu presa e foi torturada por duas semanas, sem prestar qualquer informação aos militares do serviço de inteligência do exército, CIEx, que sempre quiseram pegá-la viva.Em julho, Dina foi levada de helicóptero para um ponto da mata, próximo de Xambioá. Assim que pisou no solo, pressentindo que seria executada, Dina perguntou ao sargento do exército Joaquim Artur Lopes de Souza, codinome Ivan, chefe da equipe, “Vocês vão me matar agora?” , ao que Ivan respondeu: “Não, um pouco mais à frente”. Quando pararam em uma clareira, Dina perguntou: “Vou morrer agora?”, ao que Ivan respondeu afirmativamente: “Vai, agora você vai ter que ir”. Sem demonstrar medo, Dina declarou: “Então, quero morrer de frente”, ao que Ivan retrucou: “Então vira pra cá”. Dina encarou o executor nos olhos, que lhe desferiu um tiro no peito, usando uma pistola calibre 45. Enterraram-na ali mesmo.






terça-feira, 19 de abril de 2016

Se ontem a atmosfera de vergonha mundial era uma nuvem pairando sobre a cabeça de alguns, hoje ela toma conta do cenário.

Logo de manhã, o The New York Times desnuda o espetáculo circense sob o qual os fatos do Impeachment desenrolam-se (http://www.nytimes.com/2016/04/19/world/americas/vote-to-impeach-rousseff-prompted-cheers-but-wont-end-turmoil-in-brazil.html?_r=0), apontando mais uma vez para o "sanatório geral" protagonizado por figuras políticas imersas em corrupção que tentam destituir uma presidente do poder a qualquer preço, pondo em risco as próprias Instituições Democráticas.

Em rede televisiva, a CNN com a colaboração do pulitzer Glenn Greenwald colocaram em cheque as razões que impulsionam o processo vivido por Roussef (http://edition.cnn.com/videos/tv/2016/04/18/intv-amanpour-glenn-greenwald-dilma-rousseff-impeachment.cnn/video/playlists/amanpour/). Não bastante, o jornalista mundialmente reconhecido decodifica via The Intercept, com um brilhantismo que lança às favas grande parte do jornalismo brasileiro, o momento político nacional e a falácia que será a tentativa da oposição de reverter a percepção no cenário internacional sobre o que está em curso no Brasil.(https://theintercept.com/2016/04/18/porque-o-sen-aloysio-nunes-foi-a-washington-um-dia-depois-da-votacao-do-impeachment/)

Ora, ora, ora!!! Alguém precisa avisar o excelentíssimo senhor Aloysio Nunes que a mídia internacional não opera como os veículos propagandistas que costumam acompanhá-lo. Fora isso, quanto a Washington, não creio que ignorará o aviso de Putin;


Moscou espera que não haja intervenção externa no processo político brasileiro

A chancelaria russa acaba de emitir um comunicado sobre as relações entre o Brasil e a Rússia, tornado público pela representante da entidade, Maria Zakharova.

“Observamos atentamente o agravamento da situação no Brasil, surgido por causa da decisão tomada pela câmara baixa do Congresso Nacional de iniciar o impeachment da presidente do país. A Rússia está ligada com o Brasil por laços de parceria estratégica, por uma experiência bem-sucedida de cooperação em várias plataformas — ONU, G20, BRICS. Esperamos que os problemas que possam surgir neste período complexo para nosso parceiro sejam solucionados no âmbito do Direito Constitucional, sem intervenções externas”, diz-se no documento.
http://www.conversaafiada.com.br/economia/putin-nao-quer-o-nariz-de-obama-aqui

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Um dia depois do Congresso Nacional envergonhar mundialmente a nossa, por assim dizer, Republiqueta, urge lutar por esse País!

Não é possível aceitar a mediocridade dos Deputados que, por burrice, falta de repertório ou puro oportunismo, tentam destituir uma presidente democraticamente eleita em nome de Deus, Família, Neto, Militares de 64 (com direito a homenagens a Ustra), ou pseudo combate à corrupção.

Sou e estou com o POVO, esse diverso, multicolorido, que assistira a votação com olhos de quem perde a esperança, olhos de quem sente a dor dos que estiveram por muito à margem e ainda precisam ser incluídos, respeitados, reconhecidos. Por esses olhares, Senhores, não me calo, vou contra a maré, a mídia monopolista, as camisas em verde e amarelo que excluem as diferenças. Vamos juntos? Não nos afastemos que o mundo carece é de amor!

Disponível em: http://s2.glbimg.com/nLeEbb0zGQaICqmiXNn8GcT0qx0=/620x465/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/04/17/brazil_political_crisis_felipe_dana_ap-2_Z9a82kj.jpg